Bairros de Lençóis

Rocinha

Em 1887, mais ou menos, entre os imigrantes italianos, vinham levas de cremonenses, os filhos da Lombardia, como gostavam de ser chamados, que traziam no bojo de sua estrutura cultural,  o orgulho da guerra de “Sulferino”, as façanha “Dei Mille”, as renovações socialistas,  e o ardor de gente aventureira.
Em número de vinte e tantas famílias, passaram a residir em área de terreno pouco a cima do SAAE  (Serviço Autônomo de Água  e Esgotos), à margem direita do rio Lençóis, gleba que lhes fora doada pelo núcleo colonial agrícola “Vitória”, fundão por Dom José Magnani, pároco da cidade.
Em terrenos muito pequenos, cultivavam  diversos produtos agrícolas, lavouras pequenas, e essa prática de fazer lavouras pequenas originou o nome do bairro “Rocinha”.
Prevaleciam no local os costumes cremonenses,  os  consórcios realizavam-se unicamente entre eles. Nem mesmos os imigrantes de outras regiões participavam dos consócios.  Dentre as culturas agrícolas vindas da Itália, havia a vinha. A produção de vinho na Rocinha remonta décadas e até hoje é  mantida pela Família Casagrande.
Como passar do tempo, já em melhores condições financeiras, os imigrantes passaram a reviver  os tempos históricos de sua pátria, as aventuras e acontecimentos que constituíam a bagagem  de suas visitas anuais à França, Suíça, Bélgica, Austrália e Prussia, países que no inverso, eles ima em busca de trabalho.
A casa de vinho, conhecida como  “Hosteria” era o local onde eles re reuniam aos domingos. Alí eram realizados bailes, banquetes, festas, e segundo relata o historiador Alexandre Chitto, muitas vezes esses encontros terminavam em pancadaria, mas é bom que se destaque, nunca alguém saiu ferido e nunca gerou inimizade.
Durante o baile, se um elemento (pessoa) não ligado ao grupo quisesse por “as mangas pra fora” a primeira coisa que sumia do teto era o lampião. Depois voavam bancos, cadeiras, garrafas,  mas nada de tiros nem facadas, pois aquela gente nunca andava aramada.  Terminada a contenda, curavam-se os pequenos ferimentos e tudo terminava “numa boa”. Nunca morreu ninguém.
Das suas reminiscências pátrias, não ficou olvidada a política. Homens de pouca religião e  avessos aos ricos,  fundaram um núcleo socialista. Dessa fundação surgiu a festa de 1º de maio na Rocinha, que se constituiu num dos principais acontecimentos festivos do município.  No dia da festa, logo pela manhã, era hasteada na porta da “Hosteria” a bandeira  vermelha, símbolo da ideologia política. Lógico que, para dar mais brilho ao evento, era feita uma grande queima de fogos. Tudo isso, logo pela manhã.  Mais tarde, eles  rumavam para o centro da  cidade e contratavam banda de música e no grande cortejo ostentavam bandeiras e galhardetes  vermelhos, distintivos na lapela, e regressavam ao bairro Rocinha. No final da tarde, proferiam discursos atacando os ricos e os padres, bebiam, comiam e cantavam hinos alusivos ao “Dia do Trabalho”.
Os  caboclos da redondeza atraídos pelo barulho, reuniam-se em bloquinhos, longe do comício,  espiando o movimento com suspeita.  Só com muita insistência dos manifestantes, um ou outro se aproximava para “matar o bicho”. Assim também, acontecia com os estrangeiros de outras partes do município e que ainda não estavam aclimatados com as comemorações do 1º de Maio. Mantinham-se afastados e às vezes comentavam:  “ Essa gente vai para o inferno”. Falecendo um companheiro, compareciam todos, dando assistência e conforto moral à família e tratar dos funerais.
Certa ocasião, no bairro Lageado faleceu o adepto Carlos Ferrazi, vulgo taion que sendo socialista merecia as devidas homenagens póstumas. A Rocinha compareceu em peso ao sepultamento, com a bandeira e galhardetes vermelhos.  Chegado o cortejo fúnebre à igreja,  não se fizeram  de rogados. Os integrantes do séquito ingressaram no templo com todas aquelas insígnias partidárias, postando-se ao redor do caixão, como expressivo e último adeus ao companheiro.
Naquele dia dom José Magnani esse achava ausente  e o seu substituto não se opôs ao ingresso da bandeira vermelha na igreja. Era estranho, mas deixou a coisa correr.
Chegando Dom José Magnani e sabedor do ocorrido, participou ao grupo que se estivesse presente, haveria proibido a entrada das insígnias socialista no templo.  Mas no fim, os ânimos se acalmaram. Dom José Magnani era amigo daquela gente que continuou a festejar o 1º de Maio. Essa era a Rocinha de 70 anos  atrás. A rebelde Rocinha como escreveu Alexandre Chitto, um dos filhos ilustres do local.
Fonte: Lençóis Paulista Ontem e Hoje

Corvo Branco

Inicialmente, habitavam o bairro Corvo Branco famílias de espanhóis, italianos e caboclos. As pequenas propriedades agrícolas eram muito pequenas e distantes uma das outras. Os caboclos, Por exemplo construíam suas casas no campo, muito longe dos visinhos. À margem esquerda do córrego Corvo Branco, a mais ou menos cem metros da hoje Rodovia Onsy Matheus, (SP 261) moravam dois sitiantes: João Pavanello e Cerillo Donato. Por volta de 1908, os dois sitiantes decidiram construir a primeira capela de Santo Antonio no bairro Corvo Branco. Homens de poucos recursos traçaram um plano para angariar fundos para dar andamento ao arrojado projeto. Por longos anos Pavanello e Cerillo peregrinaram em todas as direções do município. Como dinheiro naquela época era dinheiro, cada contribuição não ia além de um tostão, dois ovos e quando muito duzentos réis. A batalha era realmente inglória, mas depois de algum tempo, eles conseguiram recursos para construir a primeira capela de Santo Antonio. O prédio era pequeno e não comportava a demanda de fiéis. Dois ou três anos mais tarde, foi nomeado festeiro o senhor João Sasso, residente no bairro Rocinha. Este reformou e ampliou a capela primitiva e anos depois construíu-se a atual capela.
Fonte: Lençóis Paulista Ontem e Hoje

 Mamedina

vila-mamedina

A mais velha vila de Lençóis Paulista foi criada pela Família Rocha, proprietária de grandes glebas de terras no município.  Mamedina deriva do nome do patriarca Mamede Feliciano de Oliveira Rocha que foi além de grande proprietário de terras, um influente político da cidade, chegando ao cargo de prefeito (intendente) em duas oportunidades, 1880  e 1883. Os intendentes ficavam apenas um ano no poder. Ele era casado com Dona Januária da Conceição, conhecida como Sinhazinha, filha do Coronel Joaquim Gabriel de Oliveira Lima. A família morava num casarão que ficava na esquina das ruas Raul Gonçalves de Oliveira e Avenida Vinte e Cinco de Janeiro, porta de entrada para o Vila Mamedina. A bem da verdade, não se tratava de uma simples casa, era um verdadeiro palacete. Construída de tijolos de primeira, tinha vários quartos, paredes forradas com papeis importados da Itália e em cada uma das salas havia uma estátua de mármore branco representando as quatro estações do ano. Segundo descreveu o historiador Alexandre Chitto eram figuras femininas vestidas de roupas alvas e traziam nas mãos elementos referentes à primavera, verão, outono e inverno.  No pavimento superior ficavam os dormitórios, todos com varandas feitas com madeiras de lei trabalhadas.  Dessas varanda dava-se para se vislumbrava as lavouras que se estendiam por onde se  encontra hoje a Vila Mamedina.  Nascia, então, a primeira Vila de Lençóis.

Fazendinha

No bairro fazendinha, no final do século 19, moravam imigrantes espanhóis. Eles formavam um centro agrícola de considerável progresso no município. No início, dada as dificuldades de se chegar ao centro da cidade, uma vez que o bairro ficava afastado, os habitantes do local limitavam-se e viviam de acordo  com os costumes que trouxeram da península Ibéria. Até as crianças se comunicavam pelo idioma castelhano. A bem da verdade até os brasileiros que com eles conviviam, adotaram a língua e falavam fluentemente a língua espanhola. Italianos, pretos, caboclos, manejavam com rara felicidade o idioma. Distantes da sede, condução precária e as escolas primárias não semeadas de modo a satisfazerem a instrução do município, na Fazendinha contratavam-se professores que não passavam de colonos e trabalhadores para alfabetização da criançada. Geralmente, os “mestres” eram estrangeiros, e lecionavam nas horas de folga. Eles passavam para os alunos aquilo que tinham aprendido nos seus países de origem. Estórias, contos e fábulas não eram senão aqueles que vinham do Velho Mundo, formando, assim, uma instrução fora do âmbito fornecida pelas escolas tradicionais da cidade.
Gente de pouca religião, não sentia ardor pelo catolicismo, nem pelo protestantismo, e tampouco pelo espiritismo. Não era fácil encontrar pessoas ou famílias da Fazendinha participando de qualquer cerimônia religiosa. Entre as mulheres, havia um costume exótico. Quando chegavam à meia idade, adquiriam a mortalha, a indumentária após morte: meias e vestido pretos, manto roxo, que era enfeitado de galão palheta.  Não puçás vezes, reuniam-se nas vendas, para fazer suas compras mensais. Logo, falavam das mortalhas, relacionando as peças. Quem delas dissesse que não estava preparada, não escava das observações das companheiras de que a idade vinha vindo. Aos poucos, os professores das escolas da sede, e outros brasileiros formam mudando os costumes daquela gente que acabou se abrasileirando. Os velhos hábitos forma ficando para trás até desaparecer de vez.
Fonte: Lençóis Paulista Ontem e Hoje