Devaneio

Perambulando pelas alamedas da saudade, numa esquina do passado deparei-me com um dilema e nele vislumbrei o futuro. Vi que pela estrada que eu teria de trafegar   havia uma bifurcação, e apenas uma trilha deveria ser escolhida.  A terrível indecisão fez com que eu me embrenhasse  no âmago da incerteza e depois de muito meditar, naveguei  pelo oceano da esperança, ancorando o  meu barco em  um porto seguro  de uma terra paradisíaca, onde o amor impera, ódio não prospera e todo mundo é feliz.
Nos meus devaneios, observei gente sorrindo, dançando, saltitando…. Vi pássaros voando, anjos cítaras tocando e arroios mansos e límpidos  entre as colinas floridas deslizado.   Vi gestos carinhosos, afagos, ternura, vê gente amando, cantando…. Estarreci-me com cenário tão esplendoroso. Embriaguei-me de tanto júbilo que a cada instante saciava a minha sede de ver um mundo mais feliz. Centenas de milhares de flores, cada qual com seu perfume, impregnavam o ar.
O sol, com seus raios cintilantes, derretiam as gotas de orvalho que à noite pousaram no tapete de relva verde dos amplos e maravilhosos prados. Um sonho… um verdadeiro sonho, que lamentavelmente despareceu da minha a mente assim que eu retornei à realidade. Desperto do devaneio e volto  à minha vidinha pacata e vejo noticiários mostrando crianças morrendo de fome, pais definhando por falta de tratamento adequando para seus males, muitas vezes  absolutamente curáveis. Rios secando, peixes morrendo  em virtude do descaso dos humanos. Matas desaparecendo do planeta por causa da ganância, da agricultura predatória e da irresponsabilidade dos poderes constituídos.
Vejo nos jornais  a corrupção que assola o mundo, sobretudo em países onde a educação fica em segundo plano.  Noto que nem mesmo Deus está sendo levado a sério. Em nome da fé, espertalhões  acumulam fortunas, explorando a ingenuidade de pessoas simples, de pouca ou quase nenhuma instrução. Também em nome da religião, comunidades fundamentalistas matam, saqueiam, estupram e aniquilam seus povos. Tudo em nome da fé. O mundo que eu vi no meu sonho não era esse, com certeza. Gostaria de ter continuado no meu devaneio, pois lá naquela terra, todo mundo era feliz.

Benedicto Blanco (Blanco Lençóis)