Festa de Quinze Anos

Na lateral do velho refrigerador, um calendário marcado com um xis  na maioria dos dias do mês de maio indicava que uma data importante se aproximava. Lia, menina de 14 anos e onze meses, aguardava  ansiosa pela chegada do dia vinte, afinal naquela data ela estaria deputando para a vida, pois completaria  15 anos de idade. Os olhinhos azuis brilhavam quando ela dizia que as suas melhores amiguinhas  fizeram festa de arromba para celebrar a mesma idade.
Sabia ela, entretanto, que seus pais não tinham posses para realizar marcante evento, mas, como se diz por aí,  não custava nada sonhar.  Afirmam os grandes pensadores que tudo o que se sonha com fé e frequência, um dia pode acontecer. Lia se alicerçava nessas afirmações, e ao fechar os olhinhos vislumbrava um salão de festas engalanado, convidados chegando, os pais em trajes de gala recepcionando as pessoas que adentravam pela porta principal donde quatro violinistas entoavam hinos, valsas, tangos, entre outros ritmos.
Suas inúmeras amiguinhas, trajadas a rigor a circundavam demonstrando que ela era a estrela da noite. Lia, por sua vez, estava linda dentro de um vestido branco com detalhes dourados que uma sua tia distante deu-lhe deu presente por ocasião do seu décimo quarto aniversário. A aniversariante era só sorrisos, tudo estava saindo melhor do que se previa. Inebriada, ela continuava a sonhar acordada, mesmo não tendo certeza que sua festa de quinze  anos seria realizada.
Os dias passaram rapidamente e na noite do dia dezoito de maio, antevéspera da efeméride, seus pais entraram no quarto e jogaram um balde de água fria sobre a pobre menina. Desempregado e sem grana até mesmo para prover o próprio lar, o pai de Lia não dispunha de recursos para promover a tão sonhada festa. Soluçando, Lia dizia que já havia distribuído convites e que tinha telefonado para diversas pessoas, incluindo a tia que morava distante e que no aniversário anterior havia lhe presenteado com um lindo vestido branco. “Como faremos agora? O que direi para as minhas amigas?”  Mais tarde, toca o telefone e a menina atende. – Alô…alô… Quem fala? É a tia que me deu um vestido ano passado? Que bom que a senhora está chegando, mas lamento dizer que não haverá festa alguma”.   –  “Vai ter festa sim. Do jeitinho que você sonhou. Estou aqui exatamente para organizar tudo. Seu pai me colocou a par da situação e eu me prontifiquei a ajudar, e amanhã de manhã estarei aí para  os preparativos necessários. Quero vê-la feliz. Beijos”.

Moral da história: quem sonha e tem fé, alcança seus objetivos.

::.. Benedicto Blanco é jornalista,  administrador do site Lençóis Notícias e membro da Academia Literária Lençoense.