Frustrações e a saga de Juvenal

Lógico que o Juvenal, como qualquer criança da sua idade, tinha sonhos.  Primeiro, ele queria estudar, queria ser padre, mas desistiu da idéia porque para ser padre ele teria de adotar o celibato e essa condição não lhe agradava nem um pouco. Decidiu, depois,  que seria artista de cinema. Abandonou também aquela volúpia de ir para a cidade grande tentar a sorte. Para ser artista de cinema ele teria de ser dotado de um porte fisco avantajado, situação impensável para um adolescente de pouco mais de um metro e cinquenta de altura e  55 quilos de peso.  Pensou em ser jogador de futebol, mas essa possibilidade foi descartada de imediato por causa da sua pouca estatura e do raquitismo. Mas, Juvenal era tinhoso.  Foi para uma “academia” e treinou boxe. Era o pior da turma, mas estava lá, perseverava, mas acabou sendo dispensado pelo treinador por causa da deficiência técnica. Mas ele tinha que ser alguma coisa na vida. Comprou um violão e começou a aprender os primeiros acordes. Não levava jeito pra coisa, mas insistiu, pois ele não poderia fracassar também nessa empreitada. Já  que não deu para ser padre, artista de cinema, ou jogador de futebol, o negócio era ser um cantor de sucesso, uma vez que essa atividade não exigia porte fisco e nem estatura elevada. E tinha mais uma vantagem: Depois de aprender umas musiquetas,  ele poderia sair à cata de algumas garotas, até porque,  ele ainda era debutante nesse aspecto. Juvenal, com 20 anos ainda era virgem, dá pra acreditar? Pois é.  A carreira de cantor também não deu certo e mais uma frustração se alojou na cabeça do coitado.  Lá na casa dos vinte e três anos, arrumou uma garota (louca) um pouco mais nova e casou-se com ela. Coitada da mocinha. Lupércia tinha que trabalhar em dois  empregos para sustentar Juvenal. Não que ele fosse vagabundo, não trabalhasse. Nada disso. Ele era bastante trabalhador, mas a sorte não lhe sorria de maneira nenhuma. Trabalhou de garçom, pedreiro, vendedor de livros, de baú da felicidade, bicheiro, jornaleiro,  e em mais uma gama de atividades, mas não parava mais de um mês em nenhum dos empregos. Decididamente, Juvenal era um cara sem sorte. Lupércia ficou grávida do primeiro filho. Coitada. Ela que já era feia pra burro, ficou bem pior com aquela barrigona, cabelos em desalinho e  roupa surrada. Mas continuava a trabalhar e trazer o sustento para a casa. Juvenal, a essa altura com mais de trinta anos nas costas, começou a tomar umas “biritas”  e chegar em casa com o pé redondo. Bêbado e sem grana, estava com a moral mais curta do que coice de porco. Com um filho pequeno no colo e outro na barriga, Lupércia percebeu que o seu marido era um caso perdido, que aquela situação era irreversível  e que a única possível solução era interná-lo num hospital psiquiátrico. Assim se fez e um mês depois lá vem Juvenal,  gordo, saradão, lustroso igual  leitão na ceva, cheio de novas ideais e planos para tirar a sua família daquela situação de extrema pobreza.  Só que, depois de tantos fracassos, nem ele estava convicto de que seus projetos vingassem.  O ácool, cigarro e algumas drogas ilícitas haviam comprometido um pouco a saúde de Juvenal e essa condição o impedia até de sair em busca de um emprego fixo. Juvenal tinha falhado em todas as suas investidas profissionais e até mesmo como marido, companheiro e amante tinha deixado a desejar por causa da sua famosa ejaculação precoce provocada pelo consumo de cachaça e cigarro. Mas, alguma coisa tinha que dar certo na vida de Juvenal. Já se passava uma década depois da sua última internação quando finalmente ele teve uma “brilhante” idéia. Agora sim. Agora ele ia ser um político respeitado na cidade. Começaria como vereador, depois prefeito, deputado e quem sabe até governador do estado, ou presidente do País. Por que não?! Ele tinha plenas condições. Não estudou, nunca gostou de ler, mas era um cara curioso, que prestava atenção em tudo à sua volta e de vez em quando “matava” uma pagininha de palavras cruzadas. Bom, agora nada poderia dar errado. Era só seguir direitinho o plano traçado que o sucesso finalmente lhe sorriria.  Lançou o seu nome como candidato a vereador de sua cidade e no dia da apuração dos votos veio a surpresa: Ninguém votou em Juvenal, nem ele próprio, nem a mulher dele, nem os dois filhos mais velhos… ninguém. ‘Caracas’, o que teria acontecido? Por que razão mais essa tristeza teria se alojado na vida de Juvenal. Será que ele merecia tanto? Que pecado grave terá cometido o pobre Juvenal para merecer tamanha decepção?  Juvenal andava até com uns pensamentos esdrúxulos, pensando besteiras a respeito de sua mísera existência, quando um  jovem juiz de direito solicitou a sua presença no fórum da cidade. Apreensivo, desconfiado e com uma baita dose de medo, foi ver o que o magistrado queria com ele. Certamente acabaria preso, porque dizem que as coisas ruins acontecem aos pares, mas Juvenal já estava acostumado às adversidades, afinal de contas, na vida dele, nada dava certo. O Juiz começou a conversa fazendo a seguinte pergunta:  “.. qual é o nome do senhor?..”  –  Ué doutor, eu sou o Juvenal.  “…Rapaz, o seu nome é Ernesto e Juvenal é um apelido de infância. Você, sua patroa e seus filhos nunca leram os documentos? O seu nome é Ernesto, e o seu tio que morava no nordeste morreu recentemente e como não tinha filhos deixou muitos bens para  você que é o único herdeiro legal. Outra coisa: Compre um terno novo para tomar posse na Câmara local porque o Juvenal não teve nenhum voto, mas o Ernesto foi o mais votado da cidade” concluiu o juiz.

 

Você que está lendo essa porcaria de texto mal escrito agora… Conhece alguém com o perfil do Juvenal? Ou melhor, do Ernesto?  Esse cara existiu. O autor do texto só trocou os nomes e tentou dar uma enfeitada, mas isso aconteceu numa cidadezinha não muito distante daqui. Pode acreditar.

Benedicto Blanco – Jornalista – MTb 24509