Natais de Minha Infância

Como ela era linda…. florida, perfumada e significativa. Com absoluto esmero, minha  mãe a ornamentava com fitas  rendadas e coloridas e com bordados que lembravam o nascimento do Menino Jesus. A tampa, era caprichosamente desenhada com traços alusivos à data máxima da cristandade.  No interior, eram depositados diversos  tipos de balas, caramelos, pirulitos e outras guloseimas que degustávamos com prazer.   Refiro-me às caixinhas de papelão que minha falecida mãe enfeitava e oferecia a mim e a um irmão um pouco mais novo, nas noites de natal.
Não havia ainda essa parafernália de brinquedos e aparelhos eletrônicos disponíveis no mercado nos dias de hoje e muito menos condições financeiras para se comprar presentes caros.  Na manhã do dia 25 de dezembro, levantávamos bem cedo e corríamos para a janela onde estavam nossos sapatos para recolhermos os presentes que, com muita antecedência sabíamos tratar-se apenas de mais uma caixinha com balas. Durante horas, pelos arredores de nossa casa que ficava na zona rural, ficávamos observando possíveis pegadas das renas e do trenó que conduzia o velho Papai Noel.
Muitas dúvidas, incertezas, mas uma coisa era certa: a felicidade nos inebriava, nos deixava impregnados de tanto júbilo pelo presente recebido. Era o melhor presente do mundo. Aquelas caixinhas de balas tinham um valor inestimável. Mas, como a vida é dividida em fases, esse período passou e vieram épocas mais prósperas. Na véspera de um natal, nosso avô materno veio com dois lindos cavalinhos plásticos. O amarelo era para meu irmão e o verdinho era o meu.
O meu irmão acabou com o dele, com uma martelada,  em menos de 20 minutos e o meu durou um pouco mais, mas não me recordo quanto tempo. Não posso esquecer de relatar que nas épocas das vacas magras, o meu sonho era ganhar um triciclo mas ele nunca chegou. Segundo meu pai,  “minha” bicicletinha de três rodas caía sempre nas águas de um rio que era cortado pela estradinha que dava acesso à cidade. Apesar da escassez de bons presentes, as festas de fim de ano tinham seu lado bom, alegre.
Meu avô paterno que era muito festeiro e tinha alguma grana, na vésperas das datas festivas mandava matar carneiros, cabritos, leitoas e  frangos. As mulheres se incumbiam de fazer os doces de  goiaba, abóbora, mamão entre outros. Por ser considerado o mais corajoso dos irmãos, meu pai ficava encarregado de abater os animais, ação que me deixava bastante triste, confesso.  Além dos membros da família, participavam das festas a criançada de toda a região próxima. Assim eram os natais de minha infância.

::.. Benedicto Blanco é jornalista, administrador do site Lençóis Notícias e membro da Academia Literária Lençoense (ALL).