Notícias de Minha Terra

Queres notícias de minha terra? Pois bem, vou passar-te uma novidade que está encafifando os moradores. Lembra-te daquele tiozinho que morava em uma cabana escura à beira do lago, próximo ao capão de mato aonde os antigos diziam ser criadouro de saci?  Pois bem. Aquele velhinho desapareceu e ninguém tem ideia de seu paradeiro. Não morreu, pois não houve enterro. Não saiu da cidade, até porque ele não tinha dinheiro para passagem e não suportaria longas caminhadas.  Não levou nenhum de seus pertences, só a roupa que estava vestindo. Na parede de taipa da choupaninha  estão ainda pendurados o bodoque feito de angico preto,  a velha pica-pau, sua violinha  de pinho e alguns trapos sujos. Da mesma maneira que chegou há décadas, desapareceu agora.
Não se tem notícia de onde ele tenha vindo e nem para onde tenha ido. Sabe-se apenas que ele sumiu, desapareceu, escafedeu. O velho vira-lata que o acompanhava nas suas andanças ali pelas redondezas continua à sua espera próximo à porta principal da casinha. Desgastado  pela fome, frio e pela tristeza por ter perdido o grande amigo, o cão já está moribundo, não come, não late e vez ou outra esboça levantar uma das orelhas carcomidas por insetos. Não se ouve mais o som da viola e nem as latidas do velho cão que, admitamos,  está mais pra lá que pra cá.
Mas, o interessante dessa história toda é que os moradores da região dizem escutar o som da viola, sobretudo nas noites enluaradas.  Tem gente falando que o velho morreu, e que seu espírito volta para tocar viola. Há quem afirme que até alguns milagres ele já tenha feito. Uma garota alega que depois de acender uma vela para a alma do velho violeiro, seu mancebo retornou mais apaixonado e estão prestes a contrair núpcias. Um produtor rural conta que uma nuvem de gafanhotos destruía sua lavoura e depois de fazer uma oração para o velho que supostamente tenha morrido, os insetos desapareceram e definitivamente a sua  roça ficou livre daquela praga que já havia lhe proporcionado muita dor de cabeça e prejuízos.
Vários são os motivos para se acreditar que de fato o violeiro tenha batido as botas, contudo, há uns linguarudos dizendo que ele se ajeitou, misturou os trapos, com uma morena rica que mora no extremo norte da cidade, onde não tem  lago fétido,  nem capão de mato com insetos e animais peçonhentos, nem cachorro pulguento por perto. O danado teria abandonado os velhos costumes, o bodoque, a espingardinha pica-pau e até a violinha para se embrenhar noutra vida, ao lado de sua musa, sua inspiração, sua companheira.
Não tenho outra notícia para passar-te. Apenas essa. Como observas, minha terrinha é bastante pacata, não acontecem grandes crimes, não há furtos significativos, nem notícia de que uma rapariga engravide antes do casamento. Só uma coisa está deixando os moradores daqui bastante curiosos. Se aquele velho morreu, onde é que está o corpo dele? Se ele é aquele que grudou na morena rica, o que ele pode ter de tão especial para despertar o interesse dela? Não é verdade? Não é um caso curioso? Noutra ocasião te darei mais notícias sobre a minha terra.

::.. Benedicto Blanco é jornalista, administrador do site Lençóis Notícias e membro da Academia Literária Lençoense (ALL)