O menino Que Sonhava Ser Cavalo

Como qualquer menino da sua geração,  Nino jogava futebol, bolinha de gude, empinava pipa,  rodava pião e participava de outras brincadeiras inerentes à sua idade. Contudo, diferentemente de seus coleguinhas que sonhavam  ser cantor, jogador de futebol, galã de novela, médico, policial, bombeiro, entre outras atividades, Nino queria mesmo era ser um cavalo. Isso mesmo, ele queria ser um cavalo. Confidenciava a amigos que gostaria de ter nascido cavalo.
Em seus devaneios, via-se marchando à frente de algum desfile inglês, montado por um lorde, conde, ou por uma bela amazonas paramentada com trajes alusivos à festa, sempre  levando à reboque uma linda  carruagem dourada, cujos ocupantes seriam reis, rainhas, príncipes, ou pessoas de vanguarda de qualquer dinastia importante. Em seu filminho imaginário, Nino se via cavalgando nos espigões dos verdes e floridos prados.
Contemplava o derreter das gotas de orvalho depositadas na relva pelo sereno da noite passada. Via-se atravessando colinas e bebendo da fonte límpida que despencava da montanha formando uma cortinha multicor de beleza estonteante. Troteava pelas alamedas, trilhas e picadas  protegidas por caramanchões  de flores campestres. Ouvia o alegre gorjear de centenas de pássaros canoros. Sentia a crina esvoaçante pelo vento enrolar em parte do seu pescoço. Nino agora era um cavalo. Um cavalo a correr pelos campos, livre, solto, despreocupado como pensamento pueril.
Nino não queria mais voltar a ser menino. Queria ser cavalo. Queria pertencer a uma donzela ou a um garboso mancebo, membro de alguma nobre prole da mais refinada burguesia. Queria ser acarinhado, cortejado e elogiado pelo mais importante cavaleiro da coroa. Mas, como tudo isso é apenas um sonho, Nino volta a jogar seu futebolzinho de rua, onde as cidadelas (traves) são feitas com pés de chinelos, ou pedaços de tijolos.

Benedicto Blanco