Orígenes Lessa

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Orígenes Lessa nasceu em Lençóis Paulista em 12 de julho de 1903 e faleceu no dia 13 de julho de 1986. Romancista, contista, ensaísta, jornalista e tradutor. Começa sua vida literária colaborando em jornais do colégio, aos 11 anos. Tenta alguns cursos superiores, incluindo o de educação física, e chega a estudar em um seminário protestante. Sua carreira profissional inicia-se, realmente, como publicitário, quando entra no departamento de propaganda da General Motors, onde trabalha até 1931. Enquanto exerce a função de tradutor, na empresa, entrega seus contos ao periódico Diário da Noite. É esse conjunto de histórias que dá origem ao seu primeiro volume publicado: O Escritor Proibido (1929), recebido com bastante euforia pela crítica. Nessa época, já reside em São Paulo, onde participa da Revolução Constitucionalista de 1932. Em 1937, publica o primeiro romance, intitulado O Joguete. No ano de 1939, recebe o Prêmio Alcântara Machado por O Feijão e o Sonho, seu maior sucesso editorial e também de crítica. No início da década de 1940, muda-se para Nova York, cidade em que exerce a função de redator da NBC. Lá fica até 1943, quando decide fixar residência no Rio de Janeiro. Dedica-se à produção literária com bastante avidez, escrevendo volumes de contos, novelas e romances, entre os quais se destacam Rua do Sol (1955), A Noite sem Homem (1968) e O Evangelho de Lázaro (1972). A partir da década de 1970, publica diversos títulos dedicados ao público infantojuvenil, tornando-se também reconhecido nesse gênero. Em 1981, é eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Comentário crítica

A prosa de Orígenes Lessa reúne tanto o coloquialismo advindo das conquistas modernistas quanto o uso correto e culto do português, realizado com economia e sem preciosismos, destaca Mário da Silva Brito. Essas características podem ser encontradas nos diferentes gêneros em que atua: o conto, o texto jornalístico, a crônica, a novela e, sobretudo, em seus romances.
De acordo com Massaud Moisés, seu primeiro volume de contos ainda demonstra certo ranço moralista, encontrado em escritores do fim do século XIX, preocupados em escrever uma “literatura sorriso da sociedade”. Contudo, já se detectam traços que marcariam suas narrativas futuras: a meditação em torno das tragédias cotidianas e a preocupação em entender os “abismos da alma humana”. Com o tempo, a arguta observação do comportamento das pessoas, salpicado com laivos de humor e pessimismo, passa a indicar uma inclinação machadiana nas suas histórias. Por outro lado, as narrativas desprovidas de momentos de clímax e as finalizações inconclusas de alguns de seus textos aproximam-no de escritores modernos, como Dalton Trevisan, segundo as observações de Glória Pondé.
Desse modo, ao unir o veio tradicionalista a características modernas, é de se notar a linguagem limpa e elegante, os personagens bem delineados e a vivacidade dada aos diálogos, que fazem de suas narrativas curtas a porção mais significativa da obra. Tais recursos, aliados à sua experiência no setor publicitário, também favorecem uma aproximação mais direta com o grande público. Daí resulta, provavelmente, o igual sucesso alcançado em suas incursões na literatura infantojuvenil: o tom aventuresco delas, somado aos diálogos bem construídos, faz com que alguns críticos, como Renard Perez, o aproximem de Monteiro Lobato.
Em relação aos temas tratados, destaca-se, sobretudo, a crítica social e de costumes. A mulher que se desvia daquilo que é esperado em uma sociedade patriarcal, por exemplo, transforma-se em matéria para a maledicência da vizinhança, como é o caso da personagem Sara, de A Vida de José de Melo Simão. Já o conto Patrulha Noturna impressiona pelo sadismo: ambientado na São Paulo revolucionária de 1932, narra uma noite na vida de um soldado pobre, obrigado a dividir a ronda noturna com um oficial de origem abastada. “João não-sei-de-quê Filho”, herdeiro de um ilustre industrial paulistano, passa o conto inteiro prometendo a “811” (número que identifica o soldado) aplacar-lhe o frio com o conhaque que possui em seu cantil; porém sempre lhe nega a bebida quando o pobre oficial a pede, prometendo-lhe entregá-la “mais tarde”.

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