Previsões de meu avô

Manhã de sol, céu de brigadeiro, a brisa branda sacolejava levemente os ramos da quaresmeira que cobriam parte do portão que dava acesso à casa do velho. Para meu avô, aquele clima representava prenúncio de chuvas. Na opinião do idoso, as águas, como dizia ele, estavam próximas. Olhar calmo, sem mexer um músculo do rosto, pausadamente dizia: “A natureza é bela, sábia. Não tem um defeito sequer. Pena que nós, os humanos, estejamos acabando com tudo isso que ela nos deu de presente. Não vai demorar muito para secar as nascentes.
Os rios e lagos, por consequencia também diminuirão, mudarão seus cursos, até sumirem completamente do mapa. A ganância, a agricultura predatória, o desmatamento, a urbanização desregrada e falta de educação ambiental da população serão os maiores vilões dessa história que ao que tudo indica, está bem perto do seu triste desfecho”, explicava meu velho avô. Ele previa que o produto mais raro e caro do futuro seria a água potável.
Contudo, apesar da pouca escolaridade, ele fazia questão de dizer que a água que bebemos hoje, é a mesma que no passado saciou a sede dos dinossauros. “Vocês mais jovens precisam entender o seguinte: “Quem diz que a água vai acabar um dia é um tremendo tolo. Não tem como acontecer isso. Para onde iria então a água? A sua urina, amanhã vai matar a sede de alguém, sem sombra de dúvidas. Não tem como a água sair do planeta. O que vai com certeza ficar escassa é a água tratada. Isso se deve à utilização irresponsável. Se os hábitos forem mudados, pode ser que se salve alguma coisa” previa o meu avô.

::.. Benedicto Blanco é jornalista, administrador do site Lençóis Notícias e membro da Academia Literária Lençoense (ALL).