Prisão Perpétua

Ouço dizer que no mundo há leis para tudo. Até para se caminhar nas ruas há certas regras que devem ser obedecidas. Eu não entendo nada de leis, na verdade eu nem sei  ler, nunca  tive um livro, revista ou jornal à minha disposição, mas presto atenção em tudo aquilo que os humanos falam. Se a pessoa comete um delito leve, sem sombra de dúvidas deverá pagar pelo seu ato. Se o crime for considerado hediondo, o delinquente é condenado a 15, 20, 30 anos de cadeia, onde deverá permanecer pelo menos  até completar um sexto da pena e a partir daí gozar os privilégios que a legislação – sobretudo  a brasileira – concede àqueles que têm bom comportamento na prisão.
O cidadão mata, estupra, sequestra e acaba preso. Pega a pena máxima. Por boa conduta, no final de cinco anos (um sexto da pena) já começa sair durante o dia para trabalhar e à noite volta para a cadeia. Pouco tempo depois o marginal está na rua, livre, quites com a justiça e pronto para aprontar mais uma das suas. E, se o delinquente for considerado “di menor”,  ele é conduzido a uma instituição que tenta – sem sucesso – recuperá-lo e devolvê-lo à sociedade. Não tem cadeia para menor de idade. Isso é o que eu escuto quase todos os dias. Agora eu pergunto: Qual foi o crime que eu cometi? Quem foi que me julgou? Eu fui sumariamente condenado à prisão perpetua sem direito a nenhuma regalia.
Nunca recebi visitas, advogado algum decidiu pegar a minha causa. Como a mesma comida há anos e muitas vezes tomo banho e bebo água suja. Uma vez por dia vem um sujeito e troca a água e coloca um pouco de comida no meu pratinho e me elogia porque eu canto e ele acha que eu estou alegre, mas na verdade eu canto de tristeza. Sei que nunca mais sairei daqui. Nunca tive o prazer de dar umas voltinhas, conhecer lugares novos. Meu “dono” decretou a minha prisão perpétua sem que eu pudesse ao menos me defender. Não tenho futuro. Meu futuro é a morte dentro deste ínfimo e fétido compartimento. Sou um pássaro…. sou um canarinho indefeso que canta para não enlouquecer.

Benedicto Blanco