Redes sociais: Homens são maiores vítimas

São aliciados por amigas no Facebook a despir-se para a câmara em poses eróticas. Depois são chantageados e pagam até cinco mil euros. Aumento de 80% de casos é preocupante. O aliciamento funciona assim: um homem é convidado a aceitar como amiga no Facebook uma “Gisele Bündchen”. Alta, loura, gira… é uma amizade com tudo para funcionar. Depois de uns dias de conversas “picantes” no chat, Gisele sugere que o amigo fale com ela pelo Skype, onde até se podem ver. Em frente à câmara, a amiga despe-se, faz um show erótico e convence o “alvo” a acariciar-se em poses sugestivas tal como ela. No dia seguinte já não é Gisele a contactá-lo na rede social, mas um desconhecido, que ameaça divulgar as suas imagens ousadas no Facebook aos seus amigos e familiares, a não ser que ele pague… e muito.

“As quantias pedidas da primeira vez às vítimas têm variado entre os 500 e os 5000 euros”, diz Carlos Cabreiro, coordenador da secção de crime informático da diretoria de Lisboa da Polícia Judiciária.

“Houve um aumento exponencial de casos em Portugal e o perfil da vítima é preocupante: homem, de classe média, com conhecimentos informáticos para lá do básico e esclarecido”, descreveu o coordenador de investigação criminal.

Até setembro deste ano, 68 homens portugueses tinham apresentado queixa por sextorsion, a expressão internacional para extorsão sexual na Polícia Judiciária, o novo método de extorquir dinheiro a vítimas desprevenidas nas redes sociais. Só no final do primeiro semestre, o aumento de casos em todo o país, por comparação com 29 denúncias no ano de 2014, já era de 80%. “Estimamos que devemos chegar ao fim do ano com 80 casos em todo o país”, afirmou Carlos Cabreiro.

Como a extorsão sexual é um termo usado pela Europol para descrever o modo de atuar (modus operandi) e ainda não está tipificado como crime no Código Penal português, as participações à PJ são pelos ilícitos de extorsão e acesso ilegítimo a dados. “Houve pessoas que pagaram 200, mil ou cinco mil euros. E depois perceberam que o chantagista continuava a pedir dinheiro. Quando vieram apresentar queixa foi no momento em que interiorizaram que foram usados.”

A dificuldade de investigar

Ainda não há detidos porque o crime pode ser praticado a partir de um computador em qualquer zona do mundo. O primeiro obstáculo para os investigadores da PJ é precisamente o de localizar o criminoso que está a praticar a extorsão. Pode estar num computador com endereço IP português, chinês, brasileiro ou norte-americano.

“A mulher que é usada como isco e que se torna amiga da vítima e depois aparece no Skype em determinadas poses muitas vezes nem é real. Já houve situações em que quem estava por trás do esquema, para mostrar poder à vítima, mandou um link com o vídeo da dita mulher”, conta Carlos Cabreiro. Vídeo-padrão que já foi usado em mais casos. “Até o contacto feito em português com a vítima é fácil de fazer, com a colaboração de alguém. O Brasil pode ser um eixo de preferência por ter a mesma língua, mas isto vai além deste ou daquele país, é um crime com uma vertente internacional. E com um uso diversificado de várias plataformas.” Em “80 a 90% dos casos nada liga os suspeitos a Portugal”, sublinha o investigador em crime informático.

Pela dificuldade de obtenção de prova, “a investigação está muito dependente da cooperação internacional”. Nos Estados Unidos um homem de 27 anos foi condenado em 2013 a mais de cem anos de prisão por ter pirateado os computadores de 350 vítimas adolescentes, a quem fez sextorsion. O FBI ainda procurava neste ano mais vítimas desse criminoso.

Cibercrime sempre a subir

Os crimes por via informática têm vindo sempre a subir em Portugal. Nos últimos três a quatro anos, “tem-se assistido a aumentos de 20% a 30% no cibercrime, com referência a 2015 para as situações que envolvem as redes sociais”, analisa Carlos Cabreiro. Dos crimes de exploração sexual de menores, como a pornografia infantil e o abuso, às burlas com cartões de crédito e cardasharing, passando pelos crimes contra a honra das pessoas, como a injúria ou a difamação, é cada vez mais abrangente o leque de ilícitos transpostos para a realidade virtual. A diretoria de Lisboa da PJ tem cerca de 200 inquéritos abertos por pornografia de menores na internet. Ainda são muitos casos, apesar da maior atenção a este crime, também praticado por jovens.

Fonte: http://www.dn.pt/