Reuniões na Lanchonete Tio Patinhas

Dezembro de 2012, véspera de natal, segundona brava (o natal caiu na terça) e minha mulher decidiu que deveria comprar mais algumas lembrancinhas. Ela, meu filho mais velho e eu fomos ao centro da cidade onde a possibilidade de se encontrar variedades de quinquilharias é bem maior  que na periferia, (se é que eu posso dizer que na minha cidade tem periferia). Enquanto mãe e filho saíram para adquirir os presentes que faltavam,  eu decidi entrar em uma relojoaria que  fica na rua Coronel Joaquim Gabriel, ao lado da Caixa Estadual  (hoje, Banco do Brasil).
Daquela posição, eu  verificava a movimentação de pessoas que iam de um canto para outro à  cata das últimas lembrancinhas para serem entregues no dia de natal. Como acontece com quase todos os jornalistas veteranos,  aquele cenário me inspirava a escrever algo a respeito do que via naquele instante ou, do que minha mente teimava em ir buscar em algum lugar do passado. Plantado na porta da relojoaria, permiti que o meu pensamento perambulasse pelo passado. Lembrei-me que a poucos metros dali, morava um grande amigo que atendia pelo nome de Walter Pettenazzi. Na esquina, onde hoje se encontra a loja Monalisa  havia uma alfaiataria dos irmãos Nestor e   Giovanino Cicconi.
Divagando um pouco mais, recordei das “reuniões” que aconteciam na antiga lanchonete “Tio Patinhas” que em cujo endereço, anteriormente funcionou por longos anos a sapataria de Benedito Pereira de Andrade, ou simplesmente Ditinho Sapateiro. A lanchonete Tio Patinhas pertencia a Hélio Francati, pessoa que gozava de um vasto círculo de amizades graças ao seu espírito brincalhão e amistoso. Todas as manhãs e finais de tarde ali se reuniam os irmãos Ângelo (Careca) e Walter Pettenazzi, Francisco Ângelo Quito,  Benígno Carrilho, João Lima, Airton Pasqualini (Soja), entre outros tantos lençoenses saudosos.  Claro que não era uma regra a ser cumprida, mas naquele local não se falava de negócios, não se tratava assuntos  sérios. Comentava-se  as rodadas do futebol, (a maioria era palmeirense) contava-se algumas piadas, dessas que se pode contar até na igreja, não havia discussão séria, nem bate-boca e reinava no ambiente um clima de amizade, cortesia e muito respeito.
As garrafas de bebidas que ficavam sobre um balcãozinho, cujo nível era ligeiramente inferior ao do balcão principal, eram tapadas por rolhas de cortiça. Benígno Carrilho tinha a mania de se aproximar do balcão e com um murro certeiro afundava as rolhas para dentro das garrafas.  Hélio, por sua vez, ficava uma fera. Um dia ele teve uma ideia: colocou palitos de dentes espetados nas rolhas, de forma que a ponta ficasse ligeiramente exposta na parte de fora da boca da garrafa. Não deu outra. Benígno entrou, sempre cantarolando trechos de alguma canção espanhola, e pimba:  deu um murro da tampa da garrafa. A espetada na mão foi tão forte que até o dono da lanchonete ficou preocupado.
Mas, nada que duas doses de uísque de boa qualidade misturado com campari (uma na mão e outra na goela), não resolvesse aquela parada.  Assim eram os encontros na lanchonete Tio Patinhas na década de 70. Se eu disser que senti uma pontinha de saudade, vocês que estão lendo este textinho malfeito, acreditam?

Benedicto Blanco (Blanco Lençóis)